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Gabriela Vicari

Mente Binária
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Tudo que Gabriela Vicari postou

  1. A verdade mesmo é que fiquei feliz e tensa com o convite para ter um blog na Mente Binária. Para aceitá-lo, tive que mudar duras opiniões sobre mim, sobre blogs e sobre blogueiras. Mas aqui estou e até batizei o nome do blog com o fruto dessa mudança: Eu, versão bloguerinha. Que bom que a gente muda. Dedico meu primeiro texto às mudanças. Creio que as mudanças, sejam elas pequenas ou grandes, tenham sido as maiores dádivas na minha trajetória profissional. As maiores manobras que fiz foram por conta de uma mudança que tive que enfrentar. Nasci e fui criada na zona sul da cidade de São Paulo, nos bairros Campo Limpo, Parque Ipê, Jardim Maria Sampaio e Jardim Mitsutani. A família do meu pai e mãe, meus amigos e meu colégio se situavam nesses bairros. Minha infância e adolescência foram bem condizentes à realidade dos anos 80 na periferia. Vi muita coisa feia, mas vi muita coisa bonita também. Tenho poucos amigos dessa época, mas me orgulho de colecionar aprendizados que tive com eles. Meus pais trabalhavam muito, então desde meus seis meses de idade passava maior parte do dia na casa dos meus avós maternos, com minhas tias e tios. Minha avó, Dona Severina, era costureira e ganhava seu próprio dinheiro, portanto não dependia inteiramente do meu avô. Pode parecer bobo, mas isso fez toda diferença no futuro da família. Uma pequena-grande mudança. Ela sempre foi muito criativa, uma storyteller tipicamente pernambucana, com sotaque arrastado e uma rajada de palavras em cada história. Sempre teve os olhos atentos às boas oportunidades, sabia cuidar de sua clientela e antevia às necessidades do “mercado”. Ajudava quem tinha menos que ela e vivia a lição do “quem dá, sempre ganha”. Nunca lhe faltou nada, porque nunca quis tudo. Foi a melhor professora de comunicação, marketing e empreendedorismo que tive (e tenho até hoje!). Fui agraciada por grandes outros exemplos femininos. Assisti muitas atitudes de rebeldia, independência e liderança das minhas tias, primas, amigas e irmã, que tiveram coragem de romper padrões enraizados na sociedade. Qualquer dia escrevo sobre elas. Meus pais driblaram suas condições sociais, culturais e financeiras, e conseguiram cursar a faculdade. Outra pequena-grande mudança. Isso possibilitou que eu, meu irmão e minha irmã seguíssemos o mesmo caminho, que me abriu muitas portas. Minha família é branca e sei o quanto isso é um privilégio num país de estrutura racista. Isso me abriu portas também. Recentemente entendi que não adianta me envergonhar disso, mas usar esse privilégio em prol de quem não o tem. Estudei em um pequeno colégio do bairro, onde tive a sorte de ter uma educação fora da curva. Atribuo isso à somatória do meu interesse em aprender com uma vontade genuína dos professores de ensinar. Operação simples? Não nos dias de hoje. Depois de dez anos nesse colégio, quis mudar. Lembro que meus pais não poderiam pagar por outro melhor, o que me fez concorrer a vagas de bolsista em outros colégios. Estudei muito e conquistei uma bolsa de 50% de desconto em três das melhores escolas particulares da época. Ingressei na mais barata. Durante todo o Ensino Médio nesse novo colégio, elevei bastante meu nível de ensino e fiz grandes mudanças no meu contexto social. Foi nessa escola que comecei a “vender minha arte”: criava colares e pulseiras, meio hippie-meio chic e vendia aos colegas. Foi o suficiente para praticar muita coisa que aprendi com minha avó e levantar algum trocado. Isso não durou muito tempo, o suficiente. Durante esses três anos no colégio me preparei para o vestibular. Precisava ingressar em uma faculdade pública ou filantrópica. Precisava de um emprego, pois precisava de dinheiro... não sabia muito bem para que, só sabia que não o tinha. No final no terceiro ano, escolhi prestar vestibular para o Curso de Direito. Passei numa excelente faculdade, mas desisti na matrícula. Creio que essa tenha sido minha primeira grande decisão profissional. Aos 17 anos mudei o “curso” da minha vida, no sentido figurado e literal. Um semestre depois, em agosto de 2002, entrei no Curso de Publicidade Marketing, na Universidade Mackenzie. Passei em quinto lugar. Cursei toda a faculdade com bolsa de 50% de desconto. Ainda nesse ano, precocemente, consegui um estágio no primeiro provedor de internet no Brasil. Fazia campanhas para vender assinaturas de internet dial-up por 49,90/mês. Entre fusões e aquisições, estágio e efetivação, fiquei dois anos lá. Depois ingressei numa empresa carioca que vendia licenças de antivírus e desejava conquistar o mercado paulistano. Na nova filial trabalhávamos somente eu, um engenheiro de TI e um vendedor. Uma equipe muito pequena em um mercado tão grande e competitivo. Não durou um ano, mas aprendi duas coisas: que uma empresa não se vive só de uma grande ambição sem um bom plano e execução; e a mapear os compradores de tecnologia. Estava no último ano da faculdade, precisava me estabelecer numa empresa com solidez. Nessa época eu já havia saído da casa dos meus pais, pagava contas e aluguel. Então recebi uma proposta de um grande banco estrangeiro, uma oportunidade irrecusável para quem queria um bom salário e benefícios. Passei três anos lá e pedi demissão. Definitivamente o propósito e dinâmica do mercado financeiro não me motivavam. Sai do banco sem ter para onde ir. Sai de lá com sólidos conhecimentos em processos, metas e cultura organizacional. Sai também com um carro pago, alguma reserva e muita educação financeira. E sai com um dos maiores entendimentos que tive na vida: você paga muito caro ao gastar mais do que ganha. Simples assim. Não quis procurar emprego logo de cara, então dediquei três meses para estudar um pouco de arte. Fiz cursos de design, modelagem e costura, na tentativa de me reconectar com minha essência criativa. Descobri que podemos botar a arte e a criatividade em qualquer área de atuação. Com isso, tomei uma valiosa decisão, cujos efeitos vivo até hoje: trabalhar com Marketing no setor de tecnologia. E aí começa a segunda parte da minha história. (to be continued...)
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