O aumento da demanda por profissionais da área de segurança de informação colocou as empresas diante de um problema que vem crescendo ao longo do tempo: há uma grande lacuna entre a quantidade de vagas em aberto para esses profissionais e pessoas qualificadas para ocupar essas vagas. Entrevistamos alguns especialistas da área que lidam diretamente com essa questão e nos contaram que as dificuldades tendem a aumentar, principalmente com o advento da Lei Geral da Proteção de Dados (LGPD), que exigirá das companhias maior cuidado no tratamento de informações em suas redes, além das ameaças cada vez mais sofisticadas sendo elaboradas por cibercriminosos, o que fará com que as empresas busquem reforço em seus times de segurança para se proteger.
Mas como começou essa crise no mercado?
O fato é que essa área nunca foi muito explorada pelos profissionais de TI em geral, e do outro lado, há pouca formação específica sobre esse ramo disponível. "Profissionais não foram formados para pensar em segurança. A academia não é boa, e quem acaba se dando bem são os autodidatas", diz o diretor da área de segurança, Rodrigo Jorge.
Wagner Elias, que atua na Conviso, consultoria especializada em segurança de aplicações, tem experiência com contratações desde 2008 e destaca que a maior dificuldade do setor é, de fato, a falta de mão de obra qualificada. Segundo ele, a falta de profissionais formados é uma questão global, e não somente concentrada no Brasil. "Muitos profissionais brasileiros vão trabalhar para empresas estrangeiras, mas em qualquer lugar do mundo falta formação em segurança da informação. A prática é adquirida diretamente em empresas", ressalta.
Vagas em aberto – Segundo Wagner Elias, algumas pesquisas apontam para um déficit de profissionais de segurança da informação há vários anos, mas o aumento de vagas em aberto tem sido mais frequente, pois segurança da informação é algo cada vez mais presente em muitas empresas. "Se há dois ou três anos a empresa tinha dificuldade em justificar a contratação de um profissional de segurança da informação, hoje esse é um assunto central dentro de qualquer companhia. As empresas começaram a ter orçamento para contratar esses profissionais, concorrendo com todo o mercado, incluindo consultorias, fintechs e empresas com base tecnológica", destaca.
Para tentar entrar nessa briga, acaba-se contratando profissionais com um nível abaixo do esperado para cobrir uma vaga que, dentro de suas necessidades, deveria ser de alguém mais sênior. "Isso gera uma distorção clara de salários, que estão completamente fora da realidade em muitos setores. Se paga muito para um profissional que não é tão qualificado, o que desvaloriza o setor e desestimula a busca por capacitação", reforça Elias.
Por outro lado, a contratação de profissionais em nível mais júnior pode levar às empresas a investirem em capacitação interna. "A única maneira de mudar esse cenário é as empresas se preocuparem em desenvolver profissionais, ou seja, contratar pessoas mais jovens e treiná-las", destaca o líder técnico da Trend Micro no Brasil, Franzvitor Fiorim. "Isso gera afinização das pessoas com o setor e, consequentemente, teremos um mercado que se preocupa em treinar profissionais para o futuro".
Rodrigo Jorge também reforça que outra maneira de formar profissionais na área é a própria empresa identificar pessoas dentro de sua equipe que não atuam em segurança, mas têm afinidade com o tema. "A partir disso, é preciso ter a paciência de formar", complementa.
Como se especializar na área?
Cursos específicos na já existem, e a oferta está cada vez maior. O próprio Mente Binária oferece conteúdo gratuito para treinar e desenvolver profissionais no setor de segurança. A Trend Micro também possui um programa de treinamento interno para estudantes em formação ou recém-formados, sem experiência. Mas a dica principal dos profissionais da área é buscar networking. "Ao montar times de segurança, os líderes geralmente procuram profissionais dentro de sua rede relacionamento", explica Rodrigo Jorge. Mas como manter esse networking se você ainda não é da área? "Eventos presenciais são fundamentais, além da realização de treinamentos online", indica Rodrigo.
Outra maneira de começar a atuar na área de segurança é entrar nas empresas por outras vias. "A melhor maneira é começando em suporte técnico, e depois migrar para área de redes, buscando essa oportunidade dentro da empresa. Todo mundo que trabalha comigo hoje veio de infraestrutura e desenvolvimento. Se a pessoa demonstrar interesse, pode ser que a empresa invista nessa capacitação, mas é preciso se engajar no assunto e nos times para ter a oportunidade", destaca Rodrigo Jorge.
Outra dica importante e fundamental: saber inglês. "O material mais rico sobre segurança, em sua maioria, vem de outros países. Além disso, fornecedores também são estrangeiros, e o contato com o idioma dentro das empresas é constante. A dificuldade na hora de contratar também está na falta do idioma, portanto, estudem", reforça Rodrigo Jorge.
E as empresas?
Mas não são apenas os profissionais que devem se mexer. As próprias empresas que estão sentindo agora essa dificuldade na contratação podem fazer ofertas justas que valorizem esses profissionais e os desenvolva para que o mercado não fique descoberto, com especialistas migrando de uma companhia para outra em uma competição, muitas vezes, baseada em remuneração. "Empresas devem se preocupar não só em contratar um profissional sênior, mas em ter um líder inspirador que eleve o time júnior para outro patamar. O foco dos profissionais deve ser menos em ganhar dinheiro e mais em aprender, e as empresas devem estimular isso", complementa Franzvitor Fiorim.
Recommended Comments
Join the conversation
You can post now and register later. If you have an account, sign in now to post with your account.